Pais cegos, filhos visuais. Aprendizado na ponta dos dedos
Primeiro, tratamos dos pais visuais com filhos cegos, nesta matéria. Agora, vamos ver quando ocorre o inverso: crianças visuais, filhas de pais cegos. Neste caso, a comunicação baseada na voz é possível. Por isso o bebê percebe que existe uma resposta associada aos seus primeiros sons, como o choro e os gracejos.
É sabido que as crianças respondem igualmente a estímulos visuais, e, sendo assim, é importante que os pais usem e abusem de toda a linguagem não verbal quando interagem com os filhos, notada e justamente expressões faciais e linguagem corporal, ainda que este tipo de estímulo visual seja inacessível para os progenitores.
Na verdade, através das expressões faciais, os bebês também aprendem a conhecer se a mãe está triste, alegre ou até zangada e, assim, passa a compreender, também, que as pessoas têm diferentes sentimentos e emoções, e que isso faz parte da vida.
A percepção do dia e da noite é facilitada pela ausência ou presença da luz. Por isso, o fato de os pais ligarem as luzes nas suas casas ajuda ao desenvolvimento desta percepção e permite que o bebê continue a receber a informação visual das pessoas, dos brinquedos e do seu espaço.
Por outro lado a comunicação é muito facilitada pelos estímulos auditivos (rádio, brinquedos sonoros), bem como pelos sons exteriores que se vão ouvindo durante os passeios e sobre os quais é possível falar: os pássaros, os carros, etc. Desta forma, o bebê vai associando o som ao nome do objeto e ao objeto em si. E aos poucos, vai desenvolvendo a sua linguagem.
As histórias infantis, tanto contadas como lidas, são atividades privilegiadas não só para o desenvolvimento da linguagem como para a criança se aperceber do enredo através dos outros sentidos. Além disso, através das histórias é possível não só apresentar outras famílias com pais cegos, permitindo que a criança compreenda melhor a sua realidade, como explicar que através dos outros sentidos é possível receber informação tão importante quanto a informação visual.
Se por um lado, a ilustração fornece pistas visuais importantes para a compreensão da história, por outro é possível perceber e colorir ainda mais o enredo através de descrições olfativas, gustativas e táteis.
Se quando incluímos algumas palavras em Braille estamos preparando a futura aprendizagem das crianças cegas, também aqui, quando o Braille existe em simultâneo, permite que a criança e os seus pais partilhem o mesmo livro. Assim, os pequeninos vão aprendendo que, da mesma forma que as letras todas juntas formam palavras, e estas formam frases e histórias possíveis de ler, os pontinhos do Braille traduzem todas essas palavras e possibilitam igualmente a leitura, mas… na ponta dos dedos.